domingo, julho 17, 2011

Devaneios sobre a morte e afins

A luz adentra a escuridão assim como a vida adentra a morte. Não me diga que não é assim. A morte é tão necessária quanto a escuridão. Sem morte não há vida; sem escuridão não há luz. Mas, por favor, eu lhe peço: não encare a morte como o fim, como um desprazer. A morte é a eternidade. Eternidade esta impossível de se encontrar em vida. É lá, no fim do tempo e espaço, que todos se reúnem novamente.
A experiência de viver traz tantas pessoas, tantas sensações e aprendizados ao vocabulário vívido que somente no fúnebre podem ser reencontrados, um a um, novidade a novidade.
Vivido vivo viverá. Tudo que um dia é novo passado se tornará. E do futuro ninguém sabe. Cabe à morte a reunião. Acaba-se o tempo - e o espaço. Tudo se transforma num só. E a finalidade falha em subsistir. Resta o infinito. E, agora, que reencontro meus queridos amados, que um dia já foram os melhores, a sensação do passado deixa de existir. Tudo se resume a um só. O centro da vida e da morte: a eternidade.
Meu âmago já deixa de buscar os porquês. É neste exato momento que tudo começa a mudar. Eu vejo. Eu escuto. Eu sinto. Eu contemplo a resolução e não há mais um motivo. Nem um quando, nem um como. Nem mesmo a singela ideia da preocupação. Agora, simplesmente acredito no que sinto. Quão belo poderia eu ter imaginado em vida que seria isso? É uma nova experiência, e, por assim ser, não havia imaginação potente para tal. A imaginação dá a situação; a memória, a sensação. Como se torna forte, então, a concepção! Quero dizer que toda imaginação que produz alguma sensação só se realiza por meio da recordação. É uma relação, não exatidão. Se imagino algo que nunca experimentei, posso ter uma emoção me invadindo, mas somente porque consigo uma analogia com a sensação que existiu numa situação semelhante (ou que o senhor Cérebro julga como tal). Mas o que importa? Nunca me senti tão vivo!
Cabisbaixo, como não me pergunto: o que será que aconteceu com o meu mundo? Começa no negrume, passa para o desconhecido, mas o que é isso? Pergunto, pergunto, não escuto. E o tempo passa e as memórias se diluem e o espaço, ó o espaço, ele se acaba. Volta e meia ainda ergo a cabeça. E... antes que eu me esqueça: memória, permaneça. Só que descubro que o tempo é um sujo. Bate na porta e me leva do mundo. Leva a memória, faz-me escória. Não me deixa nem escrever minha história.
Quando a transição se encerra, aquela magia negra já terminou. Eu me sinto tão cheio. Não sei se é de tristeza, arrependimento, culpa ou felicidade. Passou-se tanto e, agora, o tanto não parece nada. Há um vazio muito cheio dentro de mim. Ao dar mais alguns passos, a ficha cai. As memórias regressam. Consigo vê-los todos, senti-los realmente eternos. Agora... agora não. O tempo deixou de existir. Sei — e só sei — que estou cheio de um vazio de felicidade por tudo o que vivi e deixei de viver, por tudo que apostei e desisti, amei e odiei. Estou vazio, pois nada mais há. No entanto, estou cheio. Cheio de memórias que o tempo levou enquanto o céu era cinza. Por que vocês não me dão a mão e me seguem sem rumo? Qualquer imaginação terá algum muro.
Eu saio daqui, e deixo a memória.