terça-feira, fevereiro 22, 2011

A minha lua disse adeus


Eu estava voltando para casa depois de um dia de estudos - e diversão - e olhei para o céu. Não encontrei minha lua lá. Mas eu sorri. Sorri porque sei que em algum lugar ela está me olhando, angustiada nesse momento mais recente, porém com a fé de que as estrelas ao redor dela ainda brilham. Minha lua está tão concentrada em sua preocupação que esquece a luz que a envolve. Mesmo depois de tantas crateras serem feitas em seu âmago, ela sabe que tudo ficará bem. Ouviu isso demais. Fixou. E tudo ficará, pois o tempo, mesmo sendo maligno para o corpo, cura o coração.
Assim que soube que minha lua estava ferida e envergonhada como nunca antes estivera, meu coração apertou. O sangue que passara a ser bombeado era negro. Veneno para os sentimentos. As mãos tremeram, pois foram elas o instrumento que deu corpo a mensagens ingenuamente possuidoras de sentidos não programados para existirem. Pois é, nem toda palavra é aquilo que o dicionário diz.
Dos olhos que expressavam espanto e medo, surgiram outros, tristes dessa vez. Olhos de alguém que acabara de perder uma parte de si mesmo. Bem, era o que parecia até então. De imediato, não foram lágrimas que surgiram, mas culpa. Culpa que dominava todo o coração. Um crime fora cometido - ao ver de alguns -, no entanto, o tal criminoso nem sequer sabia que estava matando o Sr. Respeito. Li e reli diversas vezes as palavras carregadas de dor que minha lua expressara e toda vez meu coração se enchia de veneno. A dor maior era saber que era odiado por quem nem conheço. Não os culpo: fizeram o melhor com a sabedoria que têm. Descobri que a liberdade custa caro.
Eu, andarilho a olhar a lua, sabia que um dia ela sairia de meus céus, esconder-se-ia atrás das nuvens do passado, pois nada é para sempre. E tolo fui de me esquecer que tudo é possível, porque minha lua se foi por detrás das águas escuras de uma maneira mais repentina e dolorosa do que jamais imaginei. Seria isso ka? Estava escrito nas estrelas que tanto olhei e não vi?
A minha lua disse adeus. Foi tão difícil vê-la se despedir. Imaginava a cada segundo a aflição que a percorria por ter de abrir mão de um bem para ela precioso, além dos problemas recorrentes, mas tive que me conformar com sua ida para outros céus, outros universos. Era seu desejo, então, para mim, uma ordem.
Um mero admirador de sua luz radiante eu fui, afinal de contas, nunca pude sequer chegar perto de tocá-la. Quilômetros e mais quilômetros separaram-na de mim por tanto tempo e agora... agora a distância é a menor de minhas preocupações.
Espero um dia, e sei que é possível - dessa vez eu sei, já que aprendi na porrada -, que eu abra os olhos - não mais tristes - e veja o céu novamente tão limpo quanto no primeiro dia em que ela deu um sorriso para mim. Espero que nesse dia eu possa, não necessariamente, estar voltando para casa depois de um dia de estudos - e diversão -, mas que eu olhe o céu e reveja minha lua dessa vez bem de perto, onde minha mão possa alcançá-la para dar um simples abraço e poder dizer uma única palavra ao seu ouvido: obrigado.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

O cão feliz

Um cão sem uma pata que pula e parece feliz. Já viu isso?
O mundo descarta indefinidamente toneladas de felicidade para tentar se ajustar. Encaixar-se nos modelos é o desejo. Desejo vai embora. Os sonhos são esquecidos, trancafiados na lista do que fazer antes de morrer e tudo que é questão resume-se ao tempo: quando o sonho deixará de ser? Quanto tempo até o despertar? E assim vai, vai, vai, tão, tão, tão, longe, longe, longe, pisa-se em cada buraco da estrada, quebrando os ossos, ouvindo o estalar das dores que vêm e vão, até nem sequer saber o que se sabia até então. Eu amava? Eu tinha um sonho? Eu vivo o quê?
As costas se viram e um empurrão desmoraliza todo o forte da imaginação. Mais uma facada dada no coração com as próprias mãos. A culpa é sua.
Sempre há um culpado nesse mundo, porque falta alma e compreensão. Muita compreensão. A culpa é sua.
Não minha.
Está errado, está certo, blá-blá-blá. No fim, tudo não passa de memória descartável, como a merda que sai de seu corpo. A maturidade assume seu posto e sai da linha de tiro, deixando os galos brigando por seu milho. É bastante egoísmo, até, Deus perdoe. Aí chegam os sorrisos, depois, as mentiras, e por último vem o tiroteio, como diria o grande pistoleiro de Stephen King. A história, então, se repete: as costas viradas e a desmoralização, todo aquele esquema e mais falação com acusação.
Mais uma vez.
E mais uma vez.
De novo.
Nem o amor salva, porque é dada permissão ao ódio para destruir. E o sangue escorre até pela boca por causa dos dentes afiados de réptil. Muita raiva. Muita proibição. Muito esforço para seguir pelo caminho mais fácil - e sem sentido -, já que o mais árduo se revela na praticidade do júbilo e da compreensão. Ajude-me a pensar, pois sou incompleto. Ajude-me a sentir, pois sou incompleto. Ajude-me a ser, pois sou incompleto. Rogai por nós, pecadores. Pecado não é fazer sexo quando se ama. Pecar é culpar outrem que não tem escolha de como ser. Culpar o destino pelo que se faz.
Por que o cão sem pata pula e parece feliz? Porque é isso o que ele sabe fazer. É disso que ele gosta. Não há repreensão, moléstia, pecado. Não há compreensão para o preconceito aqui. Não há pata. E ainda pula. Feliz. O cão não lê, aqui, que não possui uma pata. O cão não entende a vergonha e o conceito pré-estabelecido que seres humanos dominam tanto. Por isso ele pula. Feliz. O cão atinge seu sonho sem uma pata. Feliz.
Diga-me, amigo, você consegue pedir por algo mais?