Já há uns bons seis anos pratico uma arte marcial, o kung fu, que, por sinal, significa “trabalho árduo” do corpo, da mente, coisas assim. Muitos pensam naquele estereótipo de que sei bater em todo mundo, sei lidar com qualquer situação perigosa, sei isso, sei aquilo, sei tudo da violência física. Até o cansaço se cansou, porque me cansei de incansavelmente explicar que não é bem esse o caso. Na verdade não é nem um pouco esse o caso. Arte marcial que é arte marcial não serve para agressão. Olha eu começando a explicar novamente... disse que era incansavelmente? Pois bem, agora cansei.
Enfim, numa bela tarde de um sábado ou domingo, não lembro bem, voltávamos eu e meu irmão de um campeonato lá no Ginásio Mauro Pinheiro, no Ibirapuera. Caminhávamos tranquilamente, por uma avenida, em direção à estação Paraíso do Metrô. Eu degustando um sorvete, ele confabulando comigo.
Note bem, estávamos com mochilas e armas, facão, bastão, unhas, dentes, quando um sujeito de aspectos delinquentes se aproximou e nos abordou com a seguinte frase: “Ô, to com uma faca aqui, não corre, senão te furo.” Enquanto isso, meu irmão sorrateiramente se afastou e fez um gesto meio que incompreensível para seguirmos reto... eu acho, pois o tal indivíduo não tinha faca alguma... eu acho. Sim, ele me deixou só com o cara da suposta faca e também com uma inevitável falta de ação. Vamos à luta.
(– E aí, cadê o kung fu, meu? Vai, arrebenta o cara!)
(– Ei, ei, também sou gente, não uma máquina programada para lutar. E é minha primeira vez numa situação dessas, tem que ir com calminha, gatinho.)
Aguardando a imaginária facada, permaneço estático, ainda inativo, estou em “loading...”. O sujeito fora da Lei olha para minha mão direita, deslumbra-se e:
– Vai... ... ... passa esse sorvete aí.
É o poder da mente (e da sorte). Eu disse que kung fu não é pancadaria.
Enfim, numa bela tarde de um sábado ou domingo, não lembro bem, voltávamos eu e meu irmão de um campeonato lá no Ginásio Mauro Pinheiro, no Ibirapuera. Caminhávamos tranquilamente, por uma avenida, em direção à estação Paraíso do Metrô. Eu degustando um sorvete, ele confabulando comigo.
Note bem, estávamos com mochilas e armas, facão, bastão, unhas, dentes, quando um sujeito de aspectos delinquentes se aproximou e nos abordou com a seguinte frase: “Ô, to com uma faca aqui, não corre, senão te furo.” Enquanto isso, meu irmão sorrateiramente se afastou e fez um gesto meio que incompreensível para seguirmos reto... eu acho, pois o tal indivíduo não tinha faca alguma... eu acho. Sim, ele me deixou só com o cara da suposta faca e também com uma inevitável falta de ação. Vamos à luta.
(– E aí, cadê o kung fu, meu? Vai, arrebenta o cara!)
(– Ei, ei, também sou gente, não uma máquina programada para lutar. E é minha primeira vez numa situação dessas, tem que ir com calminha, gatinho.)
Aguardando a imaginária facada, permaneço estático, ainda inativo, estou em “loading...”. O sujeito fora da Lei olha para minha mão direita, deslumbra-se e:
– Vai... ... ... passa esse sorvete aí.
É o poder da mente (e da sorte). Eu disse que kung fu não é pancadaria.