A ilustração foi criada a partir da união de elementos da teoria da psicologia da forma, a Gestalt, do filme “A Origem” (2010) e de aspectos pessoais que apresentassem uma temática ou elemento semelhante ao longa-metragem.
Seguindo uma cronologia acerca das ideias e pensamentos que acabaram por formar o desenho final, tomam-se como base primária os aspectos pessoais, depois, algumas características do filme e, por fim, alguns conceitos da Gestalt.
O “rosto-identidade” que se encontra no nível mais abaixo e mais escuro representa o fundo da mente; o passado que ninguém conhece; a perda da identidade em conflito com a confusão mental; o segredo individual e eterno, pois, mesmo que seja uma memória ruim, constrói e construiu aquele que se é no presente, logo, não é possível ser esquecido. É importante notar que esse elemento da ilustração é o que possui as menores proporções, a ausência da cor e a escuridão eminente, tudo isso por ser integrante daquele tipo de memória que é incômoda se lembrada a todo o momento; é o segredo mais profundo. Os olhos menos atentos enxergariam apenas a silhueta de um rosto, porém é mais do que isso: é a formação da identidade, é a procura por si mesmo e é o questionamento da realidade.
Subindo um nível, há um outro elemento bastante semelhante ao anterior. Dessa vez, pode-se perceber que a cor começa a aparecer, demonstrando uma vivacidade, ainda que mínima. Há, também, uma congruência à impressão digital do ser humano. Esta última denota a individualidade de cada ser, o reconhecimento da unidade perante a sociedade. Existe uma espécie de mancha na parte do “rosto-identidade” em que, numa face humana, estaria localizada a boca. Isso significa que a fala, como elemento de integração social e poder de escolha pela voz, está escondida e esquecida na memória.
Acima, observa-se o surgimento de outros “rostos-identidade”, assim como o de outra cor, o azul, que representa a serenidade e a calmaria. Esses novos personagens são como o apoio para a construção do ser central. São eles que poderão definir quem o protagonista será. A escuridão já não é tão grande, o que mostra que a memória ali representada não é de todo um segredo, uma vez que há a participação de outras “identidades” no cenário. A mancha escura que se encontra na parte superior do rosto se mostra como a ignorância, o “calar mental” de alguém que está se procurando na realidade em que está inserido.
Após o estágio anterior, o “rosto-identidade” central, protagonista da história que a ilustração conta, apresenta uma maior variedade de cores, ou seja, passou a conhecer outros e a ser incluso em uma realidade um pouco estranha, já que é nova. Os outros personagens (que apresentam problemas, como a ignorância e a falta de visão (mental, não física) do mundo) estão mais próximos, mais íntimos, mais “amigos”, isto é, participam mais da vida daquele ser: constroem, formam e trazem maiores conhecimentos (mais cores) a ele.
O topo da ilustração faz referência ao encontro com a realidade em que se vê, se sente e se conhece todas as cores. É a descoberta de si mesmo com o apoio imprescindível do outro, pois é na coletividade que se faz a individualidade. O homem é um animal social e, por assim ser, constrói-se a partir do conhecimento que lhe vem por intermédio de outrem. É exatamente isso que a ilustração mostra ao unir diversos elementos que se conectam: a memória, a identidade e a realidade.
Se unida aos temas abordados no filme “A Origem”, a ilustração traz certas semelhanças, como a memória que não se esquece (esposa do protagonista no filme), a busca da identidade (os personagens do filme muitas vezes desconhecem a si mesmos) e a compreensão da realidade (perde-se a noção, por diversas vezes, do que é real e do que é sonho durante o filme).
Quanto aos conceitos da Gestalt, alguns fundamentos estão presentes, como o princípio básico da psicologia da forma, em que "o inteiro é interpretado de maneira diferente que a soma de suas partes". Na ilustração, a camada superior indica o inteiro e gera uma significação, porém, se analisada separadamente, são apenas, um a um, “rostos-identidade” sem maior valor. Há, ainda, a lei do fechamento, em que nossa mente vê um objeto completo mesmo quando não há um. Os personagens possuem a silhueta de um rosto humano (imagina-se a face de alguém), mas, dentro desse contorno, existe a impressão digital característica do homem, ou seja, são vistas duas imagens ao mesmo tempo. Outra lei que pode ser identificada é a da proximidade: "elementos são agrupados de acordo com a distância a que se encontram uns dos outros". A ilustração, ao decorrer da ascensão, demonstra a aproximação que os elementos da extremidade passam a ter do elemento central, formando, segundo a ideia contida no todo, um só: as cores do protagonista.
Obs.: Em todas as representações do “rosto-identidade” central há bem ao centro, numa única linha, o preto. Este indica o mistério, o “eu” que nunca se mostra; é a mente e a personalidade em seu grau mais íntimo, que, talvez, nem o próprio ser conheça bem. É o universo dentro de cada um.
Não há motivos para encerrar elogios direcionados a você, Luizinho, pois, quando acho que já alcançou o admirável, sua capacidade de moldar o belo me surpreende. Sua busca pelo "muito bom" é incomensurável; transparece não se permitir à estagnação. E eu sinto mais orgulho pelo que você é. Seu dom abrange diversas circunstâncias de modo que suas produções são empáticas - o mínimo que seja - a quem se dispõe a vislumbrá-las. Não há por que deixar de te parabenizar, uma que vez que seu universo possui a singularidade mais infinita que já encontrei.
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