sábado, outubro 15, 2011

A folha que cai

A folha cai lentamente. Admira-se sua leveza e sua inexpressão.
O flutuar da folha da árvore até o chão é irrigado pela contemplação de uma Natureza que a entrega à morte, sem dó nem piedade, pois, de todas as coisas de que precisa, a principal é seguir em frente sem nunca olhar para trás. Não por ser arrogante, mas por ser natural. Nesses últimos instantes de sobrevida, a folha que voa para o inevitável não discute os porquês. Aceita, entende e sabe que é natural.
Ser humano é contra-natural.

Um comentário:

  1. Rodrigo da Silva Lima21 de outubro de 2011 às 00:22

    Não conhecia seus textos em blog.

    Serei ousado e atrevido: comentar-lo-ei.

    Bergson diz que toda consciência é, pois, memória – conservação e acumulação do passado no presente. Como disse, “principal é seguir em frente sem nunca olhar para trás”. O Ser humano realmente é contranatural: não percebe, muitas vezes, sua inexpressão no universo da Natureza... Diferentemente da folha, quase sempre discutimos os porquês do que fizemos, do que fazemos e do que faremos... Não sabemos no fundo o que é o natural.

    Provavelmente por isso Bergson diz que... Toda consciência é antecipação do futuro. Consideremos a direção de nosso espírito a qualquer momento: veremos que ele se ocupa do que ele é, mas, sobretudo, em vista do que ele vai ser. A atenção é uma expectativa, e não há consciência sem uma certa atenção à vida. O futuro lá está: ele nos chama, ou melhor, ele nos puxa: esta tração ininterrupta, que nos faz avançar na rota do tempo, é também a causa de que ajamos continuadamente. Toda ação é um penetrar no futuro.

    Como isto é difícil. Como invejo esta folha, leve e inexpressiva, que não olha para trás.

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