sábado, fevereiro 27, 2010

Memórias Póstumas de Ozzy Osbourne


"Minhééé"
Este era o primeiro som que escutava ao chegar ao lar cada um de seus fiéis donos, da mesma forma e com o mesmo carinho. O chamado era prolongado, muitas vezes, como se precisasse ser o centro da atenção entre os presentes, assim como seu homônimo humano gosta de fazer. Distraía qualquer um quando aparecia, pois o som que emitia era uma afronta à atenção, e era incrivelmente irresistível não olhar e pedir bis, principalmente quando combinava-se à voz a expressão. Expressão tão contagiante que era impossível não sorrir. Ele fazia cócegas; cócegas no coração.
Seus semelhantes nutriam uma relação de amor e ódio por sua personalidade. Ora amavam-no pela companhia graciosa, ora odiavam-no, com unhas e dentes, por suas zombarias infantis. Lavavam-no e faziam-no sangrar.
Noção lhe faltava e, por prezar pela liberdade instintivamente, era amante do descobrimento e da aventura, sendo estes os fatores que o levaram por um caminho sem volta.
Felizmente, poupou-me de presenciar seu funesto fim, mas, para outros, mostrou a agonia de seu último fôlego, infelizmente.
A felicidade que trouxe, também conseguiu na tristeza, mas a proporção de alegria nunca superará a de melancolia, porque a memória mais assídua de cada um que teve o imenso prazer em conhecê-lo é e será a de júbilo.
O tanto de coração que tinha foi-lhe tirado por alguém que não tem nem ideia do que é o amor. Para um ato tão brutal, há um déficit sentimental.
Apesar de ter ido embora repentina e prematuramente, a memória permanece, meu amigo.
Gosto especialmente de você.

"All I have to give you is a love that never dies" - Symptom of the Universe (Black Sabbath/Ozzy Osbourne)

"You know the world, it's an evil place." - Changes (Black Sabbath/Ozzy Osbourne)

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Não-mesmo!


Chega um dia em que você (ou eu, ou ele, ou ela) percebe que os dias são todos iguais. Todo dia o mesmo abrir de olhos, toda noite o mesmo fechar de olhos; os mesmos passos, as mesmas paradas; a mesma seriedade, a mesma descontração; o mesmo nunca, o mesmo para sempre; o mesmo amor, o mesmo ódio; o mesmo tédio, a mesma diversão; o mesmo oi, o mesmo tchau; o mesmo bom dia, a mesma boa noite; o mesmo sim, o mesmo não; o mesmo barulho, o mesmo silêncio; as mesmas pessoas, a mesma solidão; o mesmo erro, o mesmo acerto; a mesma raiva, a mesma alegria; a mesma lembrança, o mesmo branco; o mesmo texto do mesmo blog; o mesmo mesmo, só isso mesmo.
Porra! Cansa, não é mesmo? - sim, foi proposital - Só que então você (ou eu, ou ele, ou ela) experimenta, em um desses "mesmos", um "não-mesmo". O "não-mesmo" é uma situação, como percebe-se, participante de um "mesmo", mas na verdade não é, não foi e nunca será um "mesmo". Não é, porque, quando acontece, parece que o Universo está todo centrado naquela situação. Não foi, porque passa a impressão, quando se analisa, de que foi destino. E nunca será, porque vive na memória como se não fosse um "mesmo". É eterno no coração.

Chega um dia em que você (ou eu, ou ele, ou ela) percebe que nem todos os dias são iguais. Num momento como este parece que o mundo para, somente sendo você o existente em tão abrangente Universo. É uma sensação sem igual, pois caracteriza o uno que ocorre entre mente e coração.
A máquina de escrever cerebral e emocional grava com detalhes o melhor que pode, em sua incomensurabilidade, uma situação incomum. A este estado de deslumbramento pode-se atribuir as sensações da felicidade, da tristeza, da paixão, do sofrimento, da morte e dos mais incertos e involuntários caminhos que toma a emoção. "Certamente é um "não-mesmo"", pensa-se ao refletir instantaneamente sobre o mal-definido sentimento. Palavras faltam na hora de descrever, emoção sobra, pois reviver na mente um delírio do incomum, é desejar voltar à situação relembrada com tanta determinação, o que é impossível, já que é passado.
Um "não-mesmo" é maravilhoso por ser como é, simplesmente. É um "Wingardium Leviosa" do mundo real, uma elevação de espírito, ou levitação, se preferir (sim, trocadilho tosco, sei bem). Indo da concentração ao total deslumbre em questão de segundos, a sensação não é apenas mera coincidência de fatos, é um propósito, como tudo também é, mas com um fundo de extrema sinceridade que é carregado por toda a vida por meio de uma lembrança vivíssima e nítida, a qual chega até a causar nostalgia e o sentido que houvera na situação. É complicado explanar e, por isso, a comprensão na maioria das vezes só vem quando a experiência ocorre.
Você (ou eu - quero dizer, eu não - ou ele, ou ela) poderá pensar que tudo isso é bobagem mesmo, mas quando e se acontecer, concluirá "não mesmo!".

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Minha querida incógnita j

= ?

Você vem, você vai, e enquanto anda pelas minhas serenas terras sentimentais, cria doença, cria dor, cria esperança e um sonhador. É uma imensidão a percorrer.
A doença é a existência, é o impregnar, é a mistura das sensações. É o desejo e é a luta, a alegria e a tristeza, o tudo e o nada. Uma estrangeira em novos ares é o que aparenta quando subitamente mostra sua face não vista para um também desconhecido. Cumprimenta-o todos os dias e tem uma relação muito afetiva com tal. Entrega seu coração e recebe um outro, mas não consegue definidamente elaborar a expressão dessa ignota relação. É a Álgebra e com as mais complexas equações. Não é "encontre x", é "encontre j" o problema, com todas as variáveis. O valor de j é inestimável.
Pisa com força no solo das emoções, como se quisesse compactá-lo, deixando sua marca para que nenhum outro ser penetre naqueles recônditos, e que no futuro mostre o quanto seus passos severos tiveram importância. Passos que construíram uma vontade, estabeleceram o contato entre mundos que não se conheciam, e agora, mais do que nunca, fortaleceram os laços entre corações tão distantes no físico, mas tão próximos no único objetivo: a união.
A determinação por essa junção, por essa unidade, causa, em vezes, dor. É um tormento noturno, quando a alma deseja vagar por outras dimensões, realizar sua ufania, e, com a euforia gerada, é trancada, assim como o sono e a liberdade, por tempo suficiente para... que... o ser... quase... sufoque... ... ... ... 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10... respiração boca-a-boca... 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10... respiração boca-a-boca... recuperando o fôlego... Uh, essa foi por pouco.
Continuando...
O sentimento surgiu num lampejo do destino, como se estivesse escrito num livro. Precisa acontecer, caso contrário que paz terá(am) o(s) coração(ões) que acomoda(m) tão excêntrico sentido? Nenhuma, com certeza, e por um bom tempo. Seria a conclusão temporária e penosa de uma história poética. O que sobraria seriam as cicatrizes do tempo, mais uma vez. Mas há um porém: a esperança, lembra? Aquela mesma que morre por último e blá blá blá. Ela cria o sonhador, cria o elo entre a realidade e a realização, o sonho não concretizado. Por isso é que tudo há de acontecer. Se não, é uma lacuna na história. Se não, é a inexistência. Continuaria... uma... incógnita.
Quando a ligação for completada e um enxergar o outro, sentindo finalmente a quentura do coração humano durante o abraço do "Eu finalmente te encontrei!", o futuro poderá novamente ser planejado, como sempre é, e a história poderá ter mais uma vírgula, permanecendo o passado cravado na memória até chegar sua hora. Tudo que tem um começo, tem um fim.
Paciência, tempo, tolerância e muitas outras palavras poderiam definir a incógnita, mas há uma que realmente dá a resposta da equação e equilibra as extremidades.
Amor. Destino. É sempre esse caminho.

j
é ka*, é ka-tet** e é khef.***

Palavras retiradas da obra "A Torre Negra" de Stephen King.
* ka: é destino, mas é mais que apenas isso. É o meio para tal, é tudo sobre tal;
** ka-tet: são as pessoas interligadas pelo destino, pelo ka;
*** khef: é a interligação entre os pensamentos das pessoas formadoras de um ka-tet.