Chega um dia em que você (ou eu, ou ele, ou ela) percebe que os dias são todos iguais. Todo dia o mesmo abrir de olhos, toda noite o mesmo fechar de olhos; os mesmos passos, as mesmas paradas; a mesma seriedade, a mesma descontração; o mesmo nunca, o mesmo para sempre; o mesmo amor, o mesmo ódio; o mesmo tédio, a mesma diversão; o mesmo oi, o mesmo tchau; o mesmo bom dia, a mesma boa noite; o mesmo sim, o mesmo não; o mesmo barulho, o mesmo silêncio; as mesmas pessoas, a mesma solidão; o mesmo erro, o mesmo acerto; a mesma raiva, a mesma alegria; a mesma lembrança, o mesmo branco; o mesmo texto do mesmo blog; o mesmo mesmo, só isso mesmo.
Porra! Cansa, não é mesmo? - sim, foi proposital - Só que então você (ou eu, ou ele, ou ela) experimenta, em um desses "mesmos", um "não-mesmo". O "não-mesmo" é uma situação, como percebe-se, participante de um "mesmo", mas na verdade não é, não foi e nunca será um "mesmo". Não é, porque, quando acontece, parece que o Universo está todo centrado naquela situação. Não foi, porque passa a impressão, quando se analisa, de que foi destino. E nunca será, porque vive na memória como se não fosse um "mesmo". É eterno no coração.
Chega um dia em que você (ou eu, ou ele, ou ela) percebe que nem todos os dias são iguais. Num momento como este parece que o mundo para, somente sendo você o existente em tão abrangente Universo. É uma sensação sem igual, pois caracteriza o uno que ocorre entre mente e coração.
A máquina de escrever cerebral e emocional grava com detalhes o melhor que pode, em sua incomensurabilidade, uma situação incomum. A este estado de deslumbramento pode-se atribuir as sensações da felicidade, da tristeza, da paixão, do sofrimento, da morte e dos mais incertos e involuntários caminhos que toma a emoção. "Certamente é um "não-mesmo"", pensa-se ao refletir instantaneamente sobre o mal-definido sentimento. Palavras faltam na hora de descrever, emoção sobra, pois reviver na mente um delírio do incomum, é desejar voltar à situação relembrada com tanta determinação, o que é impossível, já que é passado.
Um "não-mesmo" é maravilhoso por ser como é, simplesmente. É um "Wingardium Leviosa" do mundo real, uma elevação de espírito, ou levitação, se preferir (sim, trocadilho tosco, sei bem). Indo da concentração ao total deslumbre em questão de segundos, a sensação não é apenas mera coincidência de fatos, é um propósito, como tudo também é, mas com um fundo de extrema sinceridade que é carregado por toda a vida por meio de uma lembrança vivíssima e nítida, a qual chega até a causar nostalgia e o sentido que houvera na situação. É complicado explanar e, por isso, a comprensão na maioria das vezes só vem quando a experiência ocorre.
Você (ou eu - quero dizer, eu não - ou ele, ou ela) poderá pensar que tudo isso é bobagem mesmo, mas quando e se acontecer, concluirá "não mesmo!".
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