De tudo que um dia tem que ir embora, pois nada é para sempre, apenas a memória persiste. Esta, única e infindável, é o que existe aqui nas meras palavras que escrevo. (E não, ela também não é para sempre. O tempo a leva embora. É sempre o tempo.)
sábado, março 13, 2010
Perfeita definição para meus textos
"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo." - Fernando Pessoa
sexta-feira, março 12, 2010
Sobre ter 16 anos
É uma mudança. Não importa se é para o bem ou para o mal, é apenas uma mudança. O que pensava estar certo é errado e o que pensava estar errado é certo, mas nem tudo. Uma percepção social, diria, do que devo ser e do que deveria ser. Só que há o "quero" e o "querem" também. Eu devo ser o que querem, assim na sociedade, e eu deveria ser o que quero, assim na individualidade. O fato de poder escolher, por mais justo que seja, é cruel. A verdade é cruel.
Lembro-me do tempo em que achava que tudo estava onde deveria estar, do tempo de pomposa honra à minha pessoa, do tempo de certezas - que acabaram por se tornar incertezas - e do tempo em que o destino me levava como uma criança em seu colo. Não precisava de responsabilidades, nem da imposição tenebrosa do futuro, muito menos de escolhas. A vida seguia por mim e sem mim.
Recordo-me, ainda, da indiferença quanto à felicidade; ela existia e não me preocupava se havia a possibilidade de tão especial sentimento ir embora numa carruagem do inferno. Eu não sabia que poderia ir embora. Só que um dia ela se foi. Até a felicidade é infeliz. Rogava para que voltasse, mas não percebia que não existia essa de ir e retornar. Ela estava; eu não enxergava; e como um sopro de ar para um defunto, parecia que a grandeza da felicidade finalmente entrava em minha concepção quando a vi - senti-a, na verdade - novamente. Como bem dizem, "você tem que perder para entender o valor", é assim que é. Felicidade tem um significado e é uma acepção tão frágil que causa imenso sofrimento e desespero quando perde seu sentido.
Aprendi a verdade; a verdade que não existe; a verdade verdadeira, a relativa. Não há absolutismo nesse mundo tão vasto mas tão pequeno. Tudo é uma cópia inovadora de outra coisa. "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", segundo Lavoisier e segundo uma verdade - não-verdadeira para alguns - que muitos absorvem para si numa vida.
A verdade, às vezes, é exatamente como um soco na cara. Dói tanto, mas tanto quando encontra seu destino, porém, com o tempo, a sensação desgraçada passa. (A dor é passageira, assim como tudo, pois nada é para sempre - fixei isto.) Em 16 anos, incontáveis verdades aparecem e desaparecem, como num passe de mágica, e parece que cada vez mais uma fortaleza se forma ao redor das verdades mais plausíveis, até que seja difícil a compenetração de influências exteriores - somente aquelas assumidas pela consciência como ruins.
Ah, é importante ressaltar o tipo de pensamento que se tem quando é mais novo. Para alguém de, por exemplo, 13 anos, existe verdade absoluta. É complexo demais explanar o total significado desse termo, principalmente da forma que o abordo, porque misturo sentimentos, consciência e inconsciência nessa definição. Meus pensamentos teriam de ser registrados nas sucessões inconcebíveis em que acontecem, o que sabemos ser impossível. Mas, voltando ao que importa, alguém de 13 anos (ou 12, ou 14), em sua introdução à adolescência, passa por uma ecótone, ecologicamente falando, uma região de transição tensa, de extrema revolta e competição para ser o (a) melhor. O mais incrível é que mesmo fazendo as maiores merdas que algum ser vivo poderia presenciar, um recém-adolescente crê, extasiado, em sua ação como a passível de maior verdade. Tudo bem, eu passei por isso, qualquer um passa, e eu precisava registrar que adolescentes são idiotas. Eu sou, você é, todo mundo é em algum momento.
A sensação é complicada, admito. Quando se tem essa idade de 13 anos, não se percebe - e não culpo ninguém por isso - a vida como ela é, cheia de reviravoltas, triste, alegre, cíclica. Só que chega um belo dia, no qual, após alguns anos - talvez 3 ou 4 -, uma certa mudança vem. O mundo muda. A vida muda. As pessoas mudam. As pessoas mudam. As pessoas mudam e nem percebem; e as pessoas mudam por que querem - obviamente a segunda é muito mais efetiva, afinal, só se pode completamente fazer algo quando se entende esse algo, como zombar de alguém. - Entendendo-se o problema, entende-se a mudança. Nesse momento, formado por segundos, minutos, horas, dias e meses, a tolice passada é revelada.
Pense numa lembrança; essa é a sensação, mas não toda. Imagine agora que essa lembrança te faz pensar no presente e, provavelmente, no futuro e que toda essa recordação faz com que você descubra o quanto era imbecil. O passado é, muitas vezes, imbecil. Essa é a sensação. Entenda que alguém de 13 anos pensa que era idiota aos seus 9, 10 anos, mas nunca, nunca admite que é idiota (e nem que errou). Então chega os 16 e você novamente pensa "Puxa... como eu era idiota!" e assim sucessivamente. Há um detalhe nessa parte. Quando se tem 16 anos, espera-se que já exista uma certa maturidade para encarar os fatos e as situações adversas - o que não se tem aos 13 -, logo um adolescente dessa idade pode, sim, admitir ser idiota em determinadas ações e concepções, pois já sabe parte do processo social e individual. Aí é que está a enorme diferença. Assumir os erros é sinal de algum crescimento. Consertá-los, então, nem se fala!
Uma atual memória (e sensação) é a de separação. "Está chegando um novo ciclo", canso de ouvir isto. Meus tímpanos já decoraram a forma que têm que se mover até. Quando tal repetição acontece frequentemente, é óbvio que algo grande virá. Outra mudança, talvez, já que sou um ser mutante. A sensação é de uma tristeza misturada com angústia, expectativa e ansiedade. Casualmente, uma certa felicidade também, pois a vontade de descobrir o futuro, unida à imaginação, tão poderosa como é, esboça um tímido sorriso na face e no coração (este último sente o que virá). O que acontece é que este é o fim dos tempos escolares como os conheço. Cada um de meus amigos e colegas irá seguir seu caminho e tenho certeza de que o contato com eles esvanecerá dia após dia, até que o afeto vire apenas lembrança. Alguns continuarão presentes em minha vida, mas não tanto. Como foi dito, é um novo ciclo; isso, de certo modo, me incomoda.
Agora, sobre ter 16 anos. O poderio do tempo é incrível e por assim ser, admiro-o. Existe uma grande diferença entre cada ano de idade, existe sim. Creio que, na verdade, é a cada fase da vida que se sente uma mudança. Olhar para trás e ver a pequena criança que houve, cheia de estabilidade, depois um adolescente iniciante, cheio de instabilidade, e agora alguém que caminha para o desconhecido, aprendendo a controlar si mesmo, estabelecer conhecimento e opinião com muito mais facilidade, pois passa a se encontrar, finalmente, num globo pulsante de semelhantes, é saber parte do que é a vida. Pena tenho daqueles que nem ligam para isso.
Existe uma certa mistura extravagante de sensações na felicidade e na descoberta desse tempo. Desvenda-se a errática da vida, tanto no passado - pretérito é imperfeito e mesmo a Língua Portuguesa conseguiu defini-lo - quanto mesmo no presente. É tão bom errar e, então, saber que errou. Um êxtase profundo de autoaprendizagem, diria que é, pois mesmo que seja indefinidamente lacerante, compreender os caminhos que levam a um equívoco é aprender mais de si mesmo.
Aprender é demais. O que normalmente falta em alguns é a vontade de possuir o saber.
Isso - pelo menos comigo - é ter ideia clara e sucinta do 16º ano de vivência.
O gosto pela verdade, qualquer que seja ela, para mim, é meus 16 anos.
Obs.: É importante ressaltar que isso não serve para todos. Toda regra tem sua exceção.
Lembro-me do tempo em que achava que tudo estava onde deveria estar, do tempo de pomposa honra à minha pessoa, do tempo de certezas - que acabaram por se tornar incertezas - e do tempo em que o destino me levava como uma criança em seu colo. Não precisava de responsabilidades, nem da imposição tenebrosa do futuro, muito menos de escolhas. A vida seguia por mim e sem mim.
Recordo-me, ainda, da indiferença quanto à felicidade; ela existia e não me preocupava se havia a possibilidade de tão especial sentimento ir embora numa carruagem do inferno. Eu não sabia que poderia ir embora. Só que um dia ela se foi. Até a felicidade é infeliz. Rogava para que voltasse, mas não percebia que não existia essa de ir e retornar. Ela estava; eu não enxergava; e como um sopro de ar para um defunto, parecia que a grandeza da felicidade finalmente entrava em minha concepção quando a vi - senti-a, na verdade - novamente. Como bem dizem, "você tem que perder para entender o valor", é assim que é. Felicidade tem um significado e é uma acepção tão frágil que causa imenso sofrimento e desespero quando perde seu sentido.
Aprendi a verdade; a verdade que não existe; a verdade verdadeira, a relativa. Não há absolutismo nesse mundo tão vasto mas tão pequeno. Tudo é uma cópia inovadora de outra coisa. "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", segundo Lavoisier e segundo uma verdade - não-verdadeira para alguns - que muitos absorvem para si numa vida.
A verdade, às vezes, é exatamente como um soco na cara. Dói tanto, mas tanto quando encontra seu destino, porém, com o tempo, a sensação desgraçada passa. (A dor é passageira, assim como tudo, pois nada é para sempre - fixei isto.) Em 16 anos, incontáveis verdades aparecem e desaparecem, como num passe de mágica, e parece que cada vez mais uma fortaleza se forma ao redor das verdades mais plausíveis, até que seja difícil a compenetração de influências exteriores - somente aquelas assumidas pela consciência como ruins.
Ah, é importante ressaltar o tipo de pensamento que se tem quando é mais novo. Para alguém de, por exemplo, 13 anos, existe verdade absoluta. É complexo demais explanar o total significado desse termo, principalmente da forma que o abordo, porque misturo sentimentos, consciência e inconsciência nessa definição. Meus pensamentos teriam de ser registrados nas sucessões inconcebíveis em que acontecem, o que sabemos ser impossível. Mas, voltando ao que importa, alguém de 13 anos (ou 12, ou 14), em sua introdução à adolescência, passa por uma ecótone, ecologicamente falando, uma região de transição tensa, de extrema revolta e competição para ser o (a) melhor. O mais incrível é que mesmo fazendo as maiores merdas que algum ser vivo poderia presenciar, um recém-adolescente crê, extasiado, em sua ação como a passível de maior verdade. Tudo bem, eu passei por isso, qualquer um passa, e eu precisava registrar que adolescentes são idiotas. Eu sou, você é, todo mundo é em algum momento.
A sensação é complicada, admito. Quando se tem essa idade de 13 anos, não se percebe - e não culpo ninguém por isso - a vida como ela é, cheia de reviravoltas, triste, alegre, cíclica. Só que chega um belo dia, no qual, após alguns anos - talvez 3 ou 4 -, uma certa mudança vem. O mundo muda. A vida muda. As pessoas mudam. As pessoas mudam. As pessoas mudam e nem percebem; e as pessoas mudam por que querem - obviamente a segunda é muito mais efetiva, afinal, só se pode completamente fazer algo quando se entende esse algo, como zombar de alguém. - Entendendo-se o problema, entende-se a mudança. Nesse momento, formado por segundos, minutos, horas, dias e meses, a tolice passada é revelada.
Pense numa lembrança; essa é a sensação, mas não toda. Imagine agora que essa lembrança te faz pensar no presente e, provavelmente, no futuro e que toda essa recordação faz com que você descubra o quanto era imbecil. O passado é, muitas vezes, imbecil. Essa é a sensação. Entenda que alguém de 13 anos pensa que era idiota aos seus 9, 10 anos, mas nunca, nunca admite que é idiota (e nem que errou). Então chega os 16 e você novamente pensa "Puxa... como eu era idiota!" e assim sucessivamente. Há um detalhe nessa parte. Quando se tem 16 anos, espera-se que já exista uma certa maturidade para encarar os fatos e as situações adversas - o que não se tem aos 13 -, logo um adolescente dessa idade pode, sim, admitir ser idiota em determinadas ações e concepções, pois já sabe parte do processo social e individual. Aí é que está a enorme diferença. Assumir os erros é sinal de algum crescimento. Consertá-los, então, nem se fala!
Uma atual memória (e sensação) é a de separação. "Está chegando um novo ciclo", canso de ouvir isto. Meus tímpanos já decoraram a forma que têm que se mover até. Quando tal repetição acontece frequentemente, é óbvio que algo grande virá. Outra mudança, talvez, já que sou um ser mutante. A sensação é de uma tristeza misturada com angústia, expectativa e ansiedade. Casualmente, uma certa felicidade também, pois a vontade de descobrir o futuro, unida à imaginação, tão poderosa como é, esboça um tímido sorriso na face e no coração (este último sente o que virá). O que acontece é que este é o fim dos tempos escolares como os conheço. Cada um de meus amigos e colegas irá seguir seu caminho e tenho certeza de que o contato com eles esvanecerá dia após dia, até que o afeto vire apenas lembrança. Alguns continuarão presentes em minha vida, mas não tanto. Como foi dito, é um novo ciclo; isso, de certo modo, me incomoda.
Agora, sobre ter 16 anos. O poderio do tempo é incrível e por assim ser, admiro-o. Existe uma grande diferença entre cada ano de idade, existe sim. Creio que, na verdade, é a cada fase da vida que se sente uma mudança. Olhar para trás e ver a pequena criança que houve, cheia de estabilidade, depois um adolescente iniciante, cheio de instabilidade, e agora alguém que caminha para o desconhecido, aprendendo a controlar si mesmo, estabelecer conhecimento e opinião com muito mais facilidade, pois passa a se encontrar, finalmente, num globo pulsante de semelhantes, é saber parte do que é a vida. Pena tenho daqueles que nem ligam para isso.
Existe uma certa mistura extravagante de sensações na felicidade e na descoberta desse tempo. Desvenda-se a errática da vida, tanto no passado - pretérito é imperfeito e mesmo a Língua Portuguesa conseguiu defini-lo - quanto mesmo no presente. É tão bom errar e, então, saber que errou. Um êxtase profundo de autoaprendizagem, diria que é, pois mesmo que seja indefinidamente lacerante, compreender os caminhos que levam a um equívoco é aprender mais de si mesmo.
Aprender é demais. O que normalmente falta em alguns é a vontade de possuir o saber.
Isso - pelo menos comigo - é ter ideia clara e sucinta do 16º ano de vivência.
O gosto pela verdade, qualquer que seja ela, para mim, é meus 16 anos.
Obs.: É importante ressaltar que isso não serve para todos. Toda regra tem sua exceção.
"Soquei a parede por estar errado, louvei Deus por estar certo."
quinta-feira, março 04, 2010
O homem que perdera as lágrimas
E então chorou. Pranto da sinceridade era o significado em meio às tantas diversidades emocionais presentes em seu arraigado coração que lutava por expressá-las tão veemente, como desejara nos mais recônditos cantos de sua mente. Embora estivesse farto de suportá-la, precisou que a tristeza viesse, dando significado à tão indesejada cena de separação. Assim, com dificuldade, as lágrimas novamente apareciam formando pequenos riachos traçados em seu rosto que tanto as conhecia. Um choro choroso, um choro comprido, um choro destemido.
A mão que o segurava no relacionamento amoroso se soltou, e então a vida teve de seguir, mas com a responsabilidade de arcar com as consequências ainda desconhecidas do passado. Foi-se, andou pelas terras da paixão em outro contexto e mais uma vez caíra do precipício, também em outro contexto. A ferida incrustada em seu coração fechou-se, assim como as portas do fluxo sentimental. O inconsciente da mente fazia sua parte intuitiva de reprimir as formas de carinho, as quais refletiam as cenas de desespero e dor vivenciadas previamente. Estúpido foi o inconsciente, que jogava por conta própria o jogo da vida sem ao menos ler as regras, nem sequer a primeira: "CUIDADO! FRÁGIL!".
Com o excesso de estupor, sua mente sofreu imensas pressões por ter errado e não ter feito nada para corrigir pelo menos uma das falhas. O tempo se mostrou hábil e a redenção veio, mas apenas uma certa parcela, pois os incontáveis caminhos que tomaram suas decisões e indecisões - estas tomadas pelo inconsciente -, levaram-no à exuberância do desconhecimento do próprio eu. Era como se tivesse perdido parte de si, parte de sua essência, e agora, após a instância do apagão, procurasse, no escuro, reaver aquelas formas de carinho e importância que há tempos perdera mas não sabia.
Por se encontrar em meio às trevas da adolescência, pressões tanto pessoais como externas vieram e revelaram a real existência dos problemas pertinentes à escuridão em que se encontrava. Os testes de seus estudos cada vez mais aprochegavam-se e as pressões que já sofria na infância para se equiparar àqueles que o rodeavam, juntamente às escolares, que exigiam a constante prova de sua insuperabilidade, tornaram-no incapaz de lidar com situações que necessitavam de suas bloqueadas emoções. Não somente a incessante provação de intelectualidade o incomodava, mas também os problemas que surgiram após seus erros, especialmente aqueles ligados às relações de amizade, que possuíra um dia de forma tão íntima.
A tristeza acompanhava seus movimentos e assim veio a morte de seu fiel amigo felino para preencher mais um tópico nesse quadro de pressões, pois as lágrimas que derramara uma vez com tanta facilidade, falhavam em vir numa outra ocasião em que era esperada. Sua consciência sabia que algo estava errado no coração; gelo rodeava aquela região. Incapaz de compreender a fala de suas emoções, engoliu-as com amargura e assim fez com determinadas outras que não deixavam de surgir ao longo dos dias. Soube que não estava só nessa jornada da melancolia, e vendo seus semelhantes da mesma forma, tentou alegrá-los com bobeiras de todo tipo. Sorriam claramente, porém, logo depois, murchavam o tão belo sorriso involuntário, não percebendo o quão eram importantes para este bobo da corte.
Indelével, o passado não deixava de persegui-lo, trazendo à tona as mais mistas pressões a seu presente, mas, disposto e sabendo que nada é para sempre, continuou o caminho tortuoso e imprevisível que já estava escrito.
Soube, num de seus devaneios, o que ocorria: era um homem que perdera as lágrimas. Entretanto, como um cego em sua eterna escuridão, dispôs-se a aprender... aprender novamente a chorar. E então chorou.
A mão que o segurava no relacionamento amoroso se soltou, e então a vida teve de seguir, mas com a responsabilidade de arcar com as consequências ainda desconhecidas do passado. Foi-se, andou pelas terras da paixão em outro contexto e mais uma vez caíra do precipício, também em outro contexto. A ferida incrustada em seu coração fechou-se, assim como as portas do fluxo sentimental. O inconsciente da mente fazia sua parte intuitiva de reprimir as formas de carinho, as quais refletiam as cenas de desespero e dor vivenciadas previamente. Estúpido foi o inconsciente, que jogava por conta própria o jogo da vida sem ao menos ler as regras, nem sequer a primeira: "CUIDADO! FRÁGIL!".
Com o excesso de estupor, sua mente sofreu imensas pressões por ter errado e não ter feito nada para corrigir pelo menos uma das falhas. O tempo se mostrou hábil e a redenção veio, mas apenas uma certa parcela, pois os incontáveis caminhos que tomaram suas decisões e indecisões - estas tomadas pelo inconsciente -, levaram-no à exuberância do desconhecimento do próprio eu. Era como se tivesse perdido parte de si, parte de sua essência, e agora, após a instância do apagão, procurasse, no escuro, reaver aquelas formas de carinho e importância que há tempos perdera mas não sabia.
Por se encontrar em meio às trevas da adolescência, pressões tanto pessoais como externas vieram e revelaram a real existência dos problemas pertinentes à escuridão em que se encontrava. Os testes de seus estudos cada vez mais aprochegavam-se e as pressões que já sofria na infância para se equiparar àqueles que o rodeavam, juntamente às escolares, que exigiam a constante prova de sua insuperabilidade, tornaram-no incapaz de lidar com situações que necessitavam de suas bloqueadas emoções. Não somente a incessante provação de intelectualidade o incomodava, mas também os problemas que surgiram após seus erros, especialmente aqueles ligados às relações de amizade, que possuíra um dia de forma tão íntima.
A tristeza acompanhava seus movimentos e assim veio a morte de seu fiel amigo felino para preencher mais um tópico nesse quadro de pressões, pois as lágrimas que derramara uma vez com tanta facilidade, falhavam em vir numa outra ocasião em que era esperada. Sua consciência sabia que algo estava errado no coração; gelo rodeava aquela região. Incapaz de compreender a fala de suas emoções, engoliu-as com amargura e assim fez com determinadas outras que não deixavam de surgir ao longo dos dias. Soube que não estava só nessa jornada da melancolia, e vendo seus semelhantes da mesma forma, tentou alegrá-los com bobeiras de todo tipo. Sorriam claramente, porém, logo depois, murchavam o tão belo sorriso involuntário, não percebendo o quão eram importantes para este bobo da corte.
Indelével, o passado não deixava de persegui-lo, trazendo à tona as mais mistas pressões a seu presente, mas, disposto e sabendo que nada é para sempre, continuou o caminho tortuoso e imprevisível que já estava escrito.
Soube, num de seus devaneios, o que ocorria: era um homem que perdera as lágrimas. Entretanto, como um cego em sua eterna escuridão, dispôs-se a aprender... aprender novamente a chorar. E então chorou.
Assinar:
Postagens (Atom)