sexta-feira, março 12, 2010

Sobre ter 16 anos

É uma mudança. Não importa se é para o bem ou para o mal, é apenas uma mudança. O que pensava estar certo é errado e o que pensava estar errado é certo, mas nem tudo. Uma percepção social, diria, do que devo ser e do que deveria ser. Só que há o "quero" e o "querem" também. Eu devo ser o que querem, assim na sociedade, e eu deveria ser o que quero, assim na individualidade. O fato de poder escolher, por mais justo que seja, é cruel. A verdade é cruel.

Lembro-me do tempo em que achava que tudo estava onde deveria estar, do tempo de pomposa honra à minha pessoa, do tempo de certezas - que acabaram por se tornar incertezas - e do tempo em que o destino me levava como uma criança em seu colo. Não precisava de responsabilidades, nem da imposição tenebrosa do futuro, muito menos de escolhas. A vida seguia por mim e sem mim.
Recordo-me, ainda, da indiferença quanto à felicidade; ela existia e não me preocupava se havia a possibilidade de tão especial sentimento ir embora numa carruagem do inferno. Eu não sabia que poderia ir embora. Só que um dia ela se foi. Até a felicidade é infeliz. Rogava para que voltasse, mas não percebia que não existia essa de ir e retornar. Ela estava; eu não enxergava; e como um sopro de ar para um defunto, parecia que a grandeza da felicidade finalmente entrava em minha concepção quando a vi - senti-a, na verdade - novamente. Como bem dizem, "você tem que perder para entender o valor", é assim que é. Felicidade tem um significado e é uma acepção tão frágil que causa imenso sofrimento e desespero quando perde seu sentido.

Aprendi a verdade; a verdade que não existe; a verdade verdadeira, a relativa. Não há absolutismo nesse mundo tão vasto mas tão pequeno. Tudo é uma cópia inovadora de outra coisa. "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", segundo Lavoisier e segundo uma verdade - não-verdadeira para alguns - que muitos absorvem para si numa vida.
A verdade, às vezes, é exatamente como um soco na cara. Dói tanto, mas tanto quando encontra seu destino, porém, com o tempo, a sensação desgraçada passa. (A dor é passageira, assim como tudo, pois nada é para sempre - fixei isto.) Em 16 anos, incontáveis verdades aparecem e desaparecem, como num passe de mágica, e parece que cada vez mais uma fortaleza se forma ao redor das verdades mais plausíveis, até que seja difícil a compenetração de influências exteriores - somente aquelas assumidas pela consciência como ruins.
Ah, é importante ressaltar o tipo de pensamento que se tem quando é mais novo. Para alguém de, por exemplo, 13 anos, existe verdade absoluta. É complexo demais explanar o total significado desse termo, principalmente da forma que o abordo, porque misturo sentimentos, consciência e inconsciência nessa definição. Meus pensamentos teriam de ser registrados nas sucessões inconcebíveis em que acontecem, o que sabemos ser impossível. Mas, voltando ao que importa, alguém de 13 anos (ou 12, ou 14), em sua introdução à adolescência, passa por uma ecótone, ecologicamente falando, uma região de transição tensa, de extrema revolta e competição para ser o (a) melhor. O mais incrível é que mesmo fazendo as maiores merdas que algum ser vivo poderia presenciar, um recém-adolescente crê, extasiado, em sua ação como a passível de maior verdade. Tudo bem, eu passei por isso, qualquer um passa, e eu precisava registrar que adolescentes são idiotas. Eu sou, você é, todo mundo é em algum momento.
A sensação é complicada, admito. Quando se tem essa idade de 13 anos, não se percebe - e não culpo ninguém por isso - a vida como ela é, cheia de reviravoltas, triste, alegre, cíclica. Só que chega um belo dia, no qual, após alguns anos - talvez 3 ou 4 -, uma certa mudança vem. O mundo muda. A vida muda. As pessoas mudam. As pessoas mudam. As pessoas mudam e nem percebem; e as pessoas mudam por que querem - obviamente a segunda é muito mais efetiva, afinal, só se pode completamente fazer algo quando se entende esse algo, como zombar de alguém. - Entendendo-se o problema, entende-se a mudança. Nesse momento, formado por segundos, minutos, horas, dias e meses, a tolice passada é revelada.
Pense numa lembrança; essa é a sensação, mas não toda. Imagine agora que essa lembrança te faz pensar no presente e, provavelmente, no futuro e que toda essa recordação faz com que você descubra o quanto era imbecil. O passado é, muitas vezes, imbecil. Essa é a sensação. Entenda que alguém de 13 anos pensa que era idiota aos seus 9, 10 anos, mas nunca, nunca admite que é idiota (e nem que errou). Então chega os 16 e você novamente pensa "Puxa... como eu era idiota!" e assim sucessivamente. Há um detalhe nessa parte. Quando se tem 16 anos, espera-se que já exista uma certa maturidade para encarar os fatos e as situações adversas - o que não se tem aos 13 -, logo um adolescente dessa idade pode, sim, admitir ser idiota em determinadas ações e concepções, pois já sabe parte do processo social e individual. Aí é que está a enorme diferença. Assumir os erros é sinal de algum crescimento. Consertá-los, então, nem se fala!

Uma atual memória (e sensação) é a de separação. "Está chegando um novo ciclo", canso de ouvir isto. Meus tímpanos já decoraram a forma que têm que se mover até. Quando tal repetição acontece frequentemente, é óbvio que algo grande virá. Outra mudança, talvez, já que sou um ser mutante. A sensação é de uma tristeza misturada com angústia, expectativa e ansiedade. Casualmente, uma certa felicidade também, pois a vontade de descobrir o futuro, unida à imaginação, tão poderosa como é, esboça um tímido sorriso na face e no coração (este último sente o que virá). O que acontece é que este é o fim dos tempos escolares como os conheço. Cada um de meus amigos e colegas irá seguir seu caminho e tenho certeza de que o contato com eles esvanecerá dia após dia, até que o afeto vire apenas lembrança. Alguns continuarão presentes em minha vida, mas não tanto. Como foi dito, é um novo ciclo; isso, de certo modo, me incomoda.

Agora, sobre ter 16 anos. O poderio do tempo é incrível e por assim ser, admiro-o. Existe uma grande diferença entre cada ano de idade, existe sim. Creio que, na verdade, é a cada fase da vida que se sente uma mudança. Olhar para trás e ver a pequena criança que houve, cheia de estabilidade, depois um adolescente iniciante, cheio de instabilidade, e agora alguém que caminha para o desconhecido, aprendendo a controlar si mesmo, estabelecer conhecimento e opinião com muito mais facilidade, pois passa a se encontrar, finalmente, num globo pulsante de semelhantes, é saber parte do que é a vida. Pena tenho daqueles que nem ligam para isso.
Existe uma certa mistura extravagante de sensações na felicidade e na descoberta desse tempo. Desvenda-se a errática da vida, tanto no passado - pretérito é imperfeito e mesmo a Língua Portuguesa conseguiu defini-lo - quanto mesmo no presente. É tão bom errar e, então, saber que errou. Um êxtase profundo de autoaprendizagem, diria que é, pois mesmo que seja indefinidamente lacerante, compreender os caminhos que levam a um equívoco é aprender mais de si mesmo.
Aprender é demais. O que normalmente falta em alguns é a vontade de possuir o saber.
Isso - pelo menos comigo - é ter ideia clara e sucinta do 16º ano de vivência.
O gosto pela verdade, qualquer que seja ela, para mim, é meus 16 anos.

Obs.: É importante ressaltar que isso não serve para todos. Toda regra tem sua exceção.

"Soquei a parede por estar errado, louvei Deus por estar certo."

4 comentários:

  1. não serve para todos mas pra uma grande parte...
    ótimo, como sempre

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  2. Eu estava pensando esses dias, como 16 anos foi uma das minhas melhores idades.

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  3. a cada ano que passa fazemos reflexões da nassa vida.Apredemos com nossos erros e acertos,medos e coragens.Mas os 16 anos é fase que mas amadurecemos(na minha opinião),temos pontos de vistas da vida com mas maturidades,é o tempo das escolhas...

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  4. Nossa...se vc teve essa reflexão por ter 16 anos...imagine quando chegar na minha idade!!!!!! rsrsrsrsrs
    Você é muito talentoso Luis...parabéns pela qualidade do texto e por ser tão "aberto" quantos às suas aflições e anseios...tenho certeza que muitos se identificarão com voce!!!!!

    Bjks
    Profa Ju

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