sábado, janeiro 02, 2010

A mecânica da brisa


O show é interrompido por um instante. É o começo de um outro espetáculo. Chamo-o (por influência de "Laranja Mecânica") de odinóque. O espetáculo do odinóque.
As cortinas se abrem novamente num tempo realmente inconcebível, deixando atônita a plateia. Plateia essa de um ser. Eu, você, ele, ela, qualquer um pode estar lá, mas é apenas um. Esse espectador faz seu próprio teatro. Ele pensa e os atores encenam. Funciona muito bem a telepatia, com uma sincronia magistralmente perfeita.
Enquanto o desenrolar das cenas acontecem, mais perguntas vêm, bombardeando não só o pensamento desse ser-testemunha mas a coreografia dos atuantes do palco, exigindo a maestria dos movimentos para que a compreensão seja atingida.
O espetáculo é assim um daqueles shows televisivos em que há um apresentador fazendo perguntas a um participante. O auditório solo é o apresentador e os atores, o participante, agindo num uníssono palpitante. Sempre que tal espectador indaga, o conjunto atuante tem que rapidamente elaborar a resposta dançante para que o jogo prossiga. Se a questão não encontra seu par perfeito, seu saneamento, sua solução, de primeira, a cena continua passando, mas alterando-se o roteiro cada vez que passa, tentando numa ansiedade desesperadora atingir o clímax e proceder com o fim satisfatório.
Assim, verdades, opiniões e outras questões vão sendo concebidas, dando a luz ao conhecimento tão almejado de nossa querida plateia. Não, não, a plateia não sabe de nada. É tudo improviso! É o show da mente. A discussão é apenas gerada assim que aquela cortina se abre. O mais incrível, que nem a plateia nem os atores percebem, é que eles são um só.
E o fim... só Deus sabe, porque chega um momento em que a finita mente humana não encontra a certeza em sua resposta. Até aí a cortina já se fechou e o show da vida voltou ao ar.

Um comentário:

  1. É fascinante o fato de ser um tag, uma quase inspiração. hahaha
    Brilhante texto, Machado de Assis. mimimi

    ResponderExcluir