Eu não consigo entender certas coisas. Muitas coisas, na verdade, assim como qualquer outra pessoa não compreende muitos dos seus problemas e de seus erros.
Às vezes o passado dá um tiro. Um tiro certeiro na cabeça. Entra na mente. Faz uma festinha por lá, mas logo sai. Não sem deixar sua inconveniente mensagem: "Ainda estou aqui. Apareço quando quero, e também quando não quero. Não há fim. Eu venho, e eu vou. Eu venho, e eu vou." A cabeça pesa, sim. O coração esvazia... só por um dia. Ou não. A inconstância dos sentimentos não é mais algo surpreendente, pelo menos para mim. Ora é uma forte emoção, ora é um simples apagão.
Procurei na literatura (e até na ciência) algo que me desse uma resposta definitiva para certas coisas, como a própria inconstância sentimental, à qual me referi logo agora que você lê. Ou "lê", sei lá. Tanto faz se você lê por gostar, ou lê só por ler, ou, ainda, lê só para cuidar da minha vida. Eu continuo escrevendo, até que um raio de motivo me faça parar.
Minto.
Importo-me, sim, se alguém lê - e deixa um comentário, de preferência (Oh, que arrogância...). Entretanto, não encontrei resposta satisfatória o bastante. Deparei-me, muitas vezes, com o tipo de solução provisória. Explicações e identificações que me bastam por um tempo definido. Não sei quanto tempo. Nunca sei.
Admito que seria parvoíce declarar que desenterrei uma definição para um problema como a inconstância. Percebi que, em certos campos da vida, não há solução eterna. Os problemas se desfiguram e se transformam em outro monstro, sucessivamente. Talvez pior, talvez melhor. Nunca se sabe. A inconstância está em todo lugar. Está aí, por exemplo. Ou não. Pois é, costuma ser bastante inconstante.
Ter inconstância no modo de vestir, tudo bem. Ser uma inconstância na própria vida, também tudo bem. É legal e admiro quem está sempre se renovando e alternando seus gostos, afinal de contas, é importante conhecer o que é diferente. Só que vá ser assim no que se refere ao afeto com outras pessoas. Aí parou, não existe mais aquela vontade de mudar, de experimentar o estranho, o incomum. Estabilidade, só se deseja estabilidade. Assim... para sempre. Uma pena que quando se trata de sentimentos, não há escolha. É um papo de si próprio consigo mesmo.
Não devo dizer que é ruim ter que mudar o carinho pelas pessoas - neste caso, deixar de tê-lo -, mas é que quando o afeto por um alguém se torna grande, a última coisa que se quer é mudança. Imagine só perder um amigo ou um grande amor por ser inconstante. E o pior de tudo é não compreender. É como utilizar o porquê, mas não saber o porquê de ser assim. Não, é pior. Ninguém fica tão aflito por errar gramaticalmente.
Mesmo assim, a busca não se torna cansativa. Na verdade, dá mais prazer ainda descobrir que há um desafio tão grande para ser desvendado, talvez, na individualidade. E, diabos, a felicidade me consumirá se algum dia chegar a experimentar o júbilo de entender o porquê de certas coisas... como a própria inconstância.
Quem se dá por vencido por não ter nem sequer uma pista do que ocorre consigo mesmo não é merecedor da emoção inconcebível de encontrar uma das partes constituintes do complexo, gigantesco e interminável quebra-cabeça humano. Se a descoberta for em alma, em um momento de solidão reflexiva, será por causa da união; será por causa de outro alguém. Não há como não ser. Não há como escapar da própria natureza. O ser humano é um animal social.
Talvez exista um motivo para haver tantas incompreensões. Talvez tudo faça parte de "um plano maior", mesmo que não consiga me convencer de que isso possa ser verdade. Talvez tudo seja coincidência, o que, em certos casos, também não consegue descer pela minha garganta.
Talvez seja o ka*.
O ka é uma roda que gira e, não importa o quê, não para. É, metaforicamente, um tornado que destrói tudo o que estiver em seu caminho. É o destino. Mas é mais que isso. A única coisa que o fará dar um tempo é o próprio tempo. Porém, a extinção deste. Sem tempo, não há existência.
Consideram-se inúmeras interpretações para algo como o ka, e acredito, eu, que o próprio autor dessa palavra e desse significado não o descreve bem, utilizando, muitas vezes, metáforas para explicá-lo, porque quis que o ka fosse interpretado, e não definido. Não se pode dar definição ao ka. Gosto do ka.
Talvez não consiga capturar os significados de certas coisas, porque as acepções dessas mesmas certas coisas estejam em buscar seus valores, e não defini-las, assim como é com o ka: a interpretação, não a definição. Talvez seja esse o significado da vida.
Enfim, é uma conversa consigo mesmo - ou a mensagem desse texto - que faz certos problemas assumirem seus sentidos. É só interpretar. Ainda que a interpretação seja errônea, um novo significado surgirá. Até para o erro.
É, a felicidade me consumiu por alguns momentos.
*ka é um termo citado na obra "A Torre Negra", de Stephen King.
Às vezes o passado dá um tiro. Um tiro certeiro na cabeça. Entra na mente. Faz uma festinha por lá, mas logo sai. Não sem deixar sua inconveniente mensagem: "Ainda estou aqui. Apareço quando quero, e também quando não quero. Não há fim. Eu venho, e eu vou. Eu venho, e eu vou." A cabeça pesa, sim. O coração esvazia... só por um dia. Ou não. A inconstância dos sentimentos não é mais algo surpreendente, pelo menos para mim. Ora é uma forte emoção, ora é um simples apagão.
Procurei na literatura (e até na ciência) algo que me desse uma resposta definitiva para certas coisas, como a própria inconstância sentimental, à qual me referi logo agora que você lê. Ou "lê", sei lá. Tanto faz se você lê por gostar, ou lê só por ler, ou, ainda, lê só para cuidar da minha vida. Eu continuo escrevendo, até que um raio de motivo me faça parar.
Minto.
Importo-me, sim, se alguém lê - e deixa um comentário, de preferência (Oh, que arrogância...). Entretanto, não encontrei resposta satisfatória o bastante. Deparei-me, muitas vezes, com o tipo de solução provisória. Explicações e identificações que me bastam por um tempo definido. Não sei quanto tempo. Nunca sei.
Admito que seria parvoíce declarar que desenterrei uma definição para um problema como a inconstância. Percebi que, em certos campos da vida, não há solução eterna. Os problemas se desfiguram e se transformam em outro monstro, sucessivamente. Talvez pior, talvez melhor. Nunca se sabe. A inconstância está em todo lugar. Está aí, por exemplo. Ou não. Pois é, costuma ser bastante inconstante.
Ter inconstância no modo de vestir, tudo bem. Ser uma inconstância na própria vida, também tudo bem. É legal e admiro quem está sempre se renovando e alternando seus gostos, afinal de contas, é importante conhecer o que é diferente. Só que vá ser assim no que se refere ao afeto com outras pessoas. Aí parou, não existe mais aquela vontade de mudar, de experimentar o estranho, o incomum. Estabilidade, só se deseja estabilidade. Assim... para sempre. Uma pena que quando se trata de sentimentos, não há escolha. É um papo de si próprio consigo mesmo.
Não devo dizer que é ruim ter que mudar o carinho pelas pessoas - neste caso, deixar de tê-lo -, mas é que quando o afeto por um alguém se torna grande, a última coisa que se quer é mudança. Imagine só perder um amigo ou um grande amor por ser inconstante. E o pior de tudo é não compreender. É como utilizar o porquê, mas não saber o porquê de ser assim. Não, é pior. Ninguém fica tão aflito por errar gramaticalmente.
Mesmo assim, a busca não se torna cansativa. Na verdade, dá mais prazer ainda descobrir que há um desafio tão grande para ser desvendado, talvez, na individualidade. E, diabos, a felicidade me consumirá se algum dia chegar a experimentar o júbilo de entender o porquê de certas coisas... como a própria inconstância.
Quem se dá por vencido por não ter nem sequer uma pista do que ocorre consigo mesmo não é merecedor da emoção inconcebível de encontrar uma das partes constituintes do complexo, gigantesco e interminável quebra-cabeça humano. Se a descoberta for em alma, em um momento de solidão reflexiva, será por causa da união; será por causa de outro alguém. Não há como não ser. Não há como escapar da própria natureza. O ser humano é um animal social.
Talvez exista um motivo para haver tantas incompreensões. Talvez tudo faça parte de "um plano maior", mesmo que não consiga me convencer de que isso possa ser verdade. Talvez tudo seja coincidência, o que, em certos casos, também não consegue descer pela minha garganta.
Talvez seja o ka*.
O ka é uma roda que gira e, não importa o quê, não para. É, metaforicamente, um tornado que destrói tudo o que estiver em seu caminho. É o destino. Mas é mais que isso. A única coisa que o fará dar um tempo é o próprio tempo. Porém, a extinção deste. Sem tempo, não há existência.
Consideram-se inúmeras interpretações para algo como o ka, e acredito, eu, que o próprio autor dessa palavra e desse significado não o descreve bem, utilizando, muitas vezes, metáforas para explicá-lo, porque quis que o ka fosse interpretado, e não definido. Não se pode dar definição ao ka. Gosto do ka.
Talvez não consiga capturar os significados de certas coisas, porque as acepções dessas mesmas certas coisas estejam em buscar seus valores, e não defini-las, assim como é com o ka: a interpretação, não a definição. Talvez seja esse o significado da vida.
Enfim, é uma conversa consigo mesmo - ou a mensagem desse texto - que faz certos problemas assumirem seus sentidos. É só interpretar. Ainda que a interpretação seja errônea, um novo significado surgirá. Até para o erro.
É, a felicidade me consumiu por alguns momentos.
*ka é um termo citado na obra "A Torre Negra", de Stephen King.
Não o elogiarei explicitamente desta vez, pois o seu texto é digno de uma admiração silenciosa, em que só o brilho dos olhos, ao fim da leitura, pode ser interpretado - e não definido. :)
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